Vocabulário: afinal das contas, como aprendo esse treco?! (8 dicas para aprender e reter vocabulário)

Acho que o título já explica o tema do nosso post hoje, não é? O aprendizado de outra língua depende quase que unicamente do nosso aprendizado e principalmente nossa retenção de novas palavras na mesma. Em outras palavras, não importa quão bem uma pessoa domine a gramática da língua se ela não consegue aplicar essa gramática a várias situações (frases, parágrafos, e demais textos).

Gingko Biloba – aparentemente, a planta pode ajudar a retenção da memória. Porém, não creio que existe comprovação científica para sustentar essa afirmação. Certamente uma das minhas 8 dicas não será “tome gingko biloba”!

Como devemos otimizar nosso estudo do vocabulário hebraico? Ao longo dos anos, através de uma dialética de vários erros e acertos, encontrei que os pontos seguintes ajudaram bastante:

  1. Persistência é chave. Você descobrirá que aprender uma língua não é como andar de bicicleta. O que quero dizer com isso é que aprendemos a andar de bicicleta quando jovens, e mesmo depois de anos sem prática, conseguimos retornar rapidamente à antiga prática. Linguagens não são assim; precisamos utilizá-las diáriamente para solidificá-las em nossas mentes. Assim, se você já aprendeu um número grande de palavras, revise, no mínimo, vinte palavras de vocabulário por dia. Isso leva pouco tempo – dois minutos, no máximo, e você descobrirá que o hábito de revisar vocabulário diariamente ficará mais fácil com o tempo. Assim, leve seus flashcards (físicos ou no celular) contigo a todo o lugar. Quando sentir vontade de checar email (por exemplo, quando estiver à espera na fila do banco, na clínica, ou enquanto a comida aquece no microondas, seu chefe dá um discurso chato, etc.), como alternativa, revise um pouco do seu vocabulário.
  2. Empregue um sistema de repetição espaçada (SRS). Repetição como? Repetição espaçada é um método que nos ensina como aprender e memorizar dados eficientemente. O conceito basicamente diz que devemos revisar apenas o material que estamos prestes a esquecer. Existem algumas maneiras de se fazer isto.
    1. Se você usa flashcards físicos, é possível dividi-los em grupos de “importância”. Isso é, se você já sabe dez palavras de trinta, coloque essas dez em um grupo à parte (digamos, grupo A), o qual você estudará apenas uma vez por semana. O alvo é de colocar todos os flashcards nesse grupo. Outro grupo (B) seria para aquelas palavras que você sabe, mas não tão bem. Revise-as uma vez a cada dois dias, ou algo assim. O terceiro grupo (C) seria para aquelas palavras que você simplesmente não conseguiu memorizar. Esse grupo precisa ser revisado diariamente. Palavras novas começam no grupo C e progridem ao grupo A. Você poderia até criar um grupo de palavras que você já dominou (grupo AA), que você revisa apenas a cada mês, etc. O único problema com esse sistema é que nem sempre será 100% eficiente. Algumas pessoas precisam revisar o grupo B diariamente, outras apenas a cada 3 dias, etc.
    2. Existem programas de computador (por exemplo, Anki) e/ou aplicativos de celular (por exemplo, Flashcards Deluxe) que contêm equações matemáticas que se acomodam à memória individual de cada usuário ao longo do tempo. Os únicos problemas com esses aplicativos são 1) o custo (Anki é grátis, mas o aplicativo Anki para o celular custa 25 USD; Flashcards Deluxe custa 4 USD) e 2) o fato de que os flashcards precisam ser virtuais. Assim, você precisa criar ou baixar uma lista confiável, e descobrir como carregá-la a esses programas. Eu já criei algumas listas de hebraico no Quizlet, que você pode acessar aqui.
  3. Utilize mnemônicas. Quando aprendi hebraico, me juntava com outros amigos que também estudavam a língua e criávamos mnemônicas. Assim, como lembrar que “pé” (פֶּה) na verdade significa “boca”? Alguém sugeriu que o פ inicial parecia uma boca aberta, e é assim que eu me lembro da palavra até hoje. Existem várias associações possíveis de se criar para aprender e lembrar de palavras. Às vezes pensamos que o tempo gasto criando uma mnemônica é um desperdício, mas o ser humano utiliza mnemônicas há séculos para se lembrar de dados difíceis de se memorizar.

    Mnemosyne_Rosetti
    Mnemosyne – deusa grega da memória, por Dante Grabriel Rosetti.
  4. Sobrecarregue seus sentidos. O que quero dizer por isso é que você não deve somente ler a palavra e pensar no som em sua mente, mas pronuncie cada palavra em voz alta, e ouça também os sons que você pronuncia. Com tanta repetição sensorial, seu cérebro memorizará cada palavra com maior facilidade.
  5. Aprenda certas características morfo-semânticas do hebraico. Não digo que seja necessário se tornar um linguista apenas para decorar algumas palavras, mas note que existem certos padrões mesmo nas palavras que você já está memorizando. Um exemplo disso é que certas palavras que começam com um מ tem a ver com um local, como מִזְבֵ֫חַ (altar = local do sacrifício) ou מִשְׁכָּן (tabernáculo – local da moradia [de Deus]). Outro exemplo é que às vezes o shureq e uma terminação feminina (qamets he) pode dar a um substantivo uma qualidade abstrata, como é o caso com גְּדוּלָּה (grandeza, de גָּדוֹל) ou גְּבוּרָה (força, de גֶּ֫בֶר).
  6. Estude logo antes de dormir. Estudos comprovam que material novo aprendido algumas horas antes de dormir aumenta consideravelmente a retenção dessa matéria. Existe um elo entre o sono (e os sonhos) e nossa organização e retenção de informações novas. Assim, certifique-se que você durma o suficiente e que sua revisão de vocábulos ocorra à noite também!
  7. Ponha o vocabulário em prática. Ninguém consegue aprender num vácuo. Palavras fazem parte de um contexto, e a memória de certas palavras somente se consolidará na sua cabeça ao traduzir um texto e vê-la em ação. Se você não sabe por onde começar, veja meu post sobre como enriquecer seu conhecimento de hebraico.
  8. Persistência é chave. Repito esse ponto porque o aprendizado de qualquer língua é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Você precisa ser persistente (estudar por um longo tempo) e consistente (estudar diariamente) também. Cada dia que você não estudar só dificultará o retorno à língua.

Beleza? Vamos lá então, pessoal! À decoração!

7 comentários sobre “Vocabulário: afinal das contas, como aprendo esse treco?! (8 dicas para aprender e reter vocabulário)

  1. Silvio

    Muito bom post!
    Tenho me empenhado em memorizar o vocabulário. Mas tenho a mesma dificuldade (eu acho) que muitos enfrentam com o português: “nesta palavra, uso patah ou qamets? Sin ou Sameck? Hê ou Het?
    Alguma sugestão para me ajudar?

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    1. Ótima pergunta, Sílvio. Concordo com você que essas pequenas diferenças são difíceis de se memorizar. Contudo, aqui vão certas dicas:
      1) existem certas diferenças morfo-semânticas entre palavras que podem te ajudar a prever qual vogal é mais apropriada Assim, דָּבַר é um verbo e דָּבָר é um substantivo, e esse mesmo padrão me dirá que הָלַךְ será um verbo e אָדָם será um substantivo. Contudo, a palavra הָיָה será um verbo por causa da qualidade de verbos fracos ל”ה. Não é fácil lembrar de todas essas regrinhas, mas quanto mais você estudar e prestar atenção nos padrões das palavras, mais fácil algumas dessas diferenças se tornarão.
      2) A diferença entre Sin e Samekh, ou Qof e Kaf, ou Het e Kaf é difícil, pois essas letras frequentemente terão o mesmo som. Nesse caso, tente fazer duas coisas: a) ao memorizar a palavra, focalize na forma visual, em vez da forma auditiva, b) crie mnemônicas para certas letras. Quando começei a memorizar palavras em hebraico, por exemplo, associei o het, que era um hê mais forte, com um significado de “força”. É claro que isso não tem nada a ver com a letra na língua original, mas me ajudou a memorizar que חֶ֫רֶב, חָזַק, e מִלְחָמָה todas são palavras com het em vez de kaf. Outras palavras com het já eram mais difíceis (já não me lembro quais), já que não tinham esse sentido de “força”, mas encontrei outras formas de memorizá-las. Não é um sistema perfeito, mas achei prático no meu caso. Se você não achar, não use! Não quero te confundir!
      3) A diferença entre o hê e o het é uma diferença fonológica – o hê é o som do r em rato, e o het é o som do ch em Bach em alemão. Eu me treinei para pronunciar esses sons, e assim memorizar a diferença entre eles de acordo com o som. Veja as diferenças nos links aqui: e het.

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  2. Silvio

    Valeu, Danillo. Sua resposta clarificou, não complicou…rsrsrs

    Obrigado pela generosa atenção e presteza na resposta. Vou procurar colocar as dicas em prática.

    Abraço

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